quinta-feira, 23 de junho de 2016

Bom dia/ boa noite pessoal
O capítulo de hoje se chama: “O Opus Dei e eu”.

Eu decidi falar sobre ele por vários motivos: primeiro porque o “nosso milagre” aconteceu por intercessão de Dom Alvaro- o primeiro sucessor de São Josemaria Escrivá no Opus Dei. Depois porque estamos na semana em que se comemora o dia do fundador (26 de junho) e finalmente porque muita gente me manda perguntas sobre o que é essa tal de direção espiritual que eu venho falando no blog, onde eu aprendi essas coisas sobre fé, etc. E não tem como falar da minha vida de fé sem falar da Obra (que é como chamamos o Opus Dei no Brasil)...

Então pra ficar mais fácil, resolvi falar por tópicos das coisas que aprendi na Obra, como no capítulo da “Abertura à vida”:

1)      Deus em primeiro lugar- Em uma das primeiras meditações que eu assisti com o padre Xavier, o sacerdote da Obra de quem já falei lá em outros posts, ele estava contando sobre a primeira coisa que ele aprendeu quando entrou num centro do Opus Dei pela primeira vez- ir no sacrário e cumprimentar Jesus, de preferência fazendo uma genuflexão. Esse item- Deus em primeiro lugar- engloba inúmeras coisas então vou ter que resumir. Mas o que é importante saber: que a primeira regra da nossa vida deve ser fazer a vontade de Deus sempre. Dante Alighieri na “A divina comédia” diz: “está na Sua vontade a nossa paz”.

Também implica ter o “amor ordenado”, algo que eu aprendi na Obra e que me é TÃO útil! O amor ordenado significa saber priorizar meus afetos, preocupações e ocupações de maneira correta. Em primeiro lugar, e essa regra vale para todos, em qualquer situação: devemos amar a Deus antes de tudo. Esse é o primeiro mandamento. Depois, essa regra muda conforme a situação das pessoas. Por exemplo, para pessoas casadas, depois de Deus vem o cônjuge, depois os filhos e assim por diante. Parece óbvio, mas isso é um grande motivo de confusão. Por exemplo, quando um pai de família sabe que depois do trabalho ele tem o jogo de futebol do filho e que isso é importante para o filho e ao invés disso ele vai a um happy hour com os amigos, ele está amando de forma desordenada (claro que é um exemplo “por cima” e eu não quero entrar em casuísticas, mas serve pra ilustrar). Ou também quando colocamos todo nosso coração em coisas como a carreira, o prestígio profissional, a saúde, o bem-estar físico. Essas coisas, todas boas, devem se ordenar para amar mais a Deus e ao próximo, não para que coloquemos nelas um valor maior do que elas têm. Em resumo: não colocar no que é passageiro um valor absoluto. 
Há um autor espiritual que comenta sobre isso falando da vida de Bertrand Russel, o matemático e filósofo ateu que viveu no século XIX/XX. Um dia ele estava caminhando e pensou: “Não amo mais minha esposa. Vou me separar”. E esse autor espiritual diz: “o problema não é que ele parou de amar a esposa, é que ele nunca deixou de se amar tanto”. Amor desordenado...

2)      O meu maior ideal é a santidade.
O maior ideal de um cristão deve ser a busca da santidade pessoal. E isso implica automaticamente no fato de que estamos buscando também a felicidade porque todo santo é  extremamente feliz. Dizer que uma pessoa santa é alegre é um pleonasmo, é “chover no molhado”.  Basta ler sobre a vida dos santos e um belo exemplo disso, já que estamos falando dele, é ver um vídeo de São Josemaria Escrivá e observar sua alegria, seu carisma, seu entusiasmo quando falava, quando conversava. E, além disso, alguém consegue convencer outra pessoa tendo uma cara amarrada, triste, mal humorada? Acho impossível.

3)      Plano de vida/ Disciplina
Sabe aquela história de que quem trabalha no Google pode chegar a hora que quer, trabalhar do jeito que quer, não ter hierarquia? Então, acho lindo, mas acho difícil funcionar..... o ser humano precisa de disciplina e eu por exemplo sou nerd de carteirinha e preciso não só de disciplina mas também de horário, de programas e de um diretor espiritual que me cobre das minhas metas. Foi isso uma das primeiras coisas que eu aprendi na Obra: nós precisamos de um “plano de vida”. O que é isso? São atividades que fazemos durante o dia que nos ajudam a ter mais presença de Deus. E o que são essas atividades? São várias e o diretor espiritual de cada um vai dando conforme ele achar melhor. São elas, por exemplo: a missa diária, o terço, a oração mental, o Angelus ao meio-dia, etc. Muita gente pensa: “ah, mas eu sou muito ocupada, tenho uma vida muito corrida, não tenho tempo pra ter um plano de vida!”. E o raciocínio é exatamente o contrário. São Francisco de Salles dizia que se você está ocupado, reze meia hora por dia. Se você está MUITO ocupado, reze uma hora. 

São Josemaria dizia que “Deus multiplica o nosso tempo”. Eu sei bem disso. Se nos esforçamos por cumprir nosso plano de vida, são muitas as graças que Deus nos rende, inclusive materiais. É por exemplo o trânsito que Ele vai fazer diminuir no caminho do trabalho/ faculdade, é aquela reunião que vai demorar menos do que havíamos previsto, aquele documento do órgão público que nós precisamos que chegará a tempo, o tratamento do filho que vai reagir mais rápido a um antibiótico, etc. Deus é senhor de tudo e Ele paga com muita generosidade quem dedica um tempo a Ele. Fora as infinitas graças espirituais. E por que nós fazemos um plano de vida? Por amor. Porque nós amamos a Deus e precisamos da graça e da presença dEle durante todo o dia.

Finalizando o raciocínio: o Ayrton Senna, que na minha opinião foi o maior atleta brasileiro de todos os tempos tinha uma enorme disciplina. Depois que ele morreu, um dia eu li uma reportagem do Nuno Cobra que foi preparador físico dele. O Nuno Cobra era conhecido por ser bem duro com os seus pupilos. Aí ele conta que dava o treino pro Senna de segunda a sábado e domingo era seu dia de folga. Aí um domingo de manhã, super frio e chuva em SP, o Senna liga pra ele e fala: “e aí, vamos dar uma corridinha?”. E ele falou: “Você ta louco Ayrton? Vai dormir! Ta uma friaca aqui em SP e são 6 da manhã!!”..kkkk. Ninguém chega a ser Ayrton Senna à toa. “No pain, no gain”. Na vida espiritual não é diferente.

4)      Trabalho voluntário. “Sair de si” foi também uma das coisas mais bonitas que aprendi na Obra: olhar meu próximo, sentir a dor do outro e não só das pessoas com necessidades físicas: doentes, miseráveis, mas também todos os que carregam feridas na alma. Eu já havia feito trabalho voluntário antes de fazer com as meninas da Obra. Mas eu costumava ir ao CARIB, uma instituição pra crianças vítimas de maus tratos em Ribeirão. Não que não tenha sido bom, todo trabalho voluntário é super valido. Mas eu saía da minha casa, passava umas duas horinhas lá e voltava pra minha realidade. O primeiro trabalho voluntário que eu fiz com o pessoal da Obra foi bem diferente: nós fomos pra uma cidade bem pobre na região de Campinas e fomos pra ficar três dias (as meninas ficaram sete mas eu trabalhava no Itau e consegui ficar  só 3). 
Nós ficamos alojadas em uma escola de improviso e eu morro de rir quando me lembro dessa minha primeira experiência. Eu confesso que eu era bem mimadinha, bem “criadona com a vó”. Então eu cheguei lá na escola, já peguei minha mala, fui pro meu “quarto” (uma sala da escola improvisada bem simples), peguei um banquinho pra colocar as minhas coisas e saquei a minha nécessaire vermelha da Victoria Sectret´s da mala. Pensa na cena: a pessoa vai fazer um trabalho voluntário em uma das regiões mais pobres do estado de SP, ficar alojada em uma escola super humilde e saca uma nécessaire vermelha da bolsa. Kkkkkkkk. Um pouco fora do contexto....mas foi uma experiência e tanto!

Num desses trabalhos voluntários com o pessoal da Obra, nós fomos pro Recife e ficamos em uma escola em Jaboatão dos Guararapes, bem pobre. Nós nos dividíamos em grupos de 3 pra ir visitando as casas e eu me lembro muito bem de uma delas. Estávamos eu, minha prima e uma amiga e nós começamos a conversar com a dona e ela começou a falar que queria ter um “resisto”. E nós não entendemos muito bem. Depois de muita conversa, nós entendemos: essa moça não tinha CPF ou RG. Imaginem? Ela não tinha acesso a nada e teve que ter seus três filhos em casa porque o hospital se negou a atendê-la porque não tinham como registrá-la. Nós ficamos muito tocadas e conseguimos encaminhá-la para tirar seus documentos. Todas essas histórias de pessoas que eu conheci nos trabalhos voluntários me fizeram ver que eu tenho muito mais do que preciso e que como diz minha mãe: “eu só tenho que agradecer todos os dias de joelhos!!”. E eu sei que muita gente pensa que esses trabalhos voluntários isolados não vão mudar o país ou o mundo e que foi só uma gota no oceano, mas como disse Madre Teresa um dia: “sem a minha gota o oceano seria menor”.

5)      A ajuda incrível dos meios de formação.
A Obra oferece diversos meios de formação espiritual: retiros, recolhimentos, cursos para casais, para pais, palestras, direção espiritual, entre tantos outros. Eles nos ajudam incrivelmente. Por exemplo em relação à direção espiritual eu aprendi que como diz o ditado: “Ninguém é bom juiz de si mesmo”. Nós temos uma tendência inegável a nos desculparmos dos nossos próprios erros e o pior: a aumentar os defeitos e erros dos outros e isso pode ser muito prejudicial em todos os nossos relacionamentos.

Há também como eu disse, muitos outros meios de formação e eu posso dizer que meus pais receberam muita ajuda deles, principalmente quando nós estávamos crescendo. Criar uma família é um desafio grande e criar uma família grande com filhos em idades espaçadas é um desafio maior ainda. Eu lembro que quando eu e minha irmã mais velha ficamos adolescentes, meus pais fizeram cursos com o pessoal da Obra e foram excelentes. São várias as coisas que os pais precisam pensar, como por exemplo: como programar as férias se você tem uma filha adolescente e uma criança pequena? Como lidar com perguntas sobre sexo dos adolescentes no meio do almoço quando seu irmão de 3 anos está junto? E nós sabemos que sexualizar as crianças precocemente não é nada bom e muito perigoso e por aí vai. 

Fora a logística: dar conta de todas as atividades, saber escolhê-las pros filhos, ter cada um estudando em uma escola em um canto diferente da cidade.... com relação a esse último item, eu lembro que meu pai uma época teve um monza azul a álcool que nunca pegava no frio. Então as 7 da manhã lá em casa tinha aquele monte de criança com as mochilinhas nas costas e meu pai xingando até a última geração dos fabricantes de Monza...kkkk

E finalmente a ajuda enorme que um casal tem quando os dois fazem direção espiritual. Eu amo e agradeço a Deus pelo fato de eu e o Matt termos direção com o padre Peter, que é um sacerdote do Opus Dei aqui em Brisbane. Pra finalizar, vou contar a última história que mostra como a Obra me ajuda, inclusive e muito especialmente no meu casamento. Esse último fim de semana eu fui pro retiro (um fim de semana por ano que tiramos pra ficar mais recolhidos e em silêncio para ouvir a Deus).  Na sexta-feira, antes de ir, eu arrumei a casa inteira: lavei os banheiros, limpei a sala e cozinha, os quartos, guardei as roupas, etc, Enfim, a casa estava um brinco! Aí na sexta-feira o Matt me deixou no retiro e foi pra cidade da minha sogra. Só que ele voltou no sábado a noite e ficou sozinho em casa de sábado até domingo a tarde quando ele foi me buscar.... Kkkkkk e marido sozinho em casa é problema...kkkkk. 
Quando nós chegamos no domingo a noite e eu fui entrando em casa eu me senti em um filme. Sabe aqueles filmes de guerra em que a câmera vai gravando lentamente a cena depois de uma batalha: os destroços, as coisas no chão? Kkkk, então, esse era o cenário na minha casa. Eu estava quase pra falar algo crítico quando ele parado no balcão da cozinha me fala: “Você viu quanto abacate eu trouxe?”. Ele trouxe vários abacates que a minha cunhada querida deu pra gente porque ele sabe que eu amo... claro que aí meu coração derreteu e eu ouvi do Espírito Santo o que eu tinha acabado de ouvir no retiro: “Você tem certeza que você quer reclamar por causa dessa besteira? Vai azedar o ambiente por causa disso?”. Aí já fui lá agradecer e falar de outras coisas e fiquei pensando como é importante pra não dizer essencial nos mantermos sempre na presença de Deus pra viver melhor tanto as grandes quanto as pequenas coisas, que afinal formam o nosso caminho de santidade.

É isso.

Mil beijos e fiquem com Deus!

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Bom dia/ boa noite pessoal!
O capítulo de hoje se chama: “Obras é que são amores, não as boas razões”.
Já vou explicando o título e depois o resto.

São Josemaria Escrivá, um dos meus santos favoritos, estava em 16 de fevereiro de 1932 dando a sagrada Eucaristia a umas irmãs de Santa Isabel e disse pra Jesus no seu coração: “Jesus, amo-te mais que estas”. E logo ouviu a resposta de Nosso Senhor: “Josemaria, obras é que são amores, não as boas razões”.

São Josemaria, que foi um “santaço” e dedicou toda sua vida a serviço de Deus e das almas, levou esse “puxão de orelha” ... toda vez que releio essa passagem fico pensando na minha vida.
E a pedidos e como prometi, vou continuar contando o decorrer do nosso milagre, que tem tudo a ver com o título de hoje.

Quando eu e o Matt nos despedimos no Rio, no domingo depois do carnaval de 2015, nós só tínhamos uma certeza: de que nós havíamos encontrado o que nós sempre procuramos (e como procuramos!! ) e que nós queríamos passar a vida inteira um do lado do outro, mas ainda era meio nebuloso o jeito que nós faríamos isso acontecer, afinal de contas ele morava do outro lado do mundo. Além disso, 2015 foi pra nós dois o ano mais corrido das nossas vidas. Eu estava trabalhando com meu pai, dando aulas duas noites por semana em Jaboticabal e escrevendo a minha dissertação do mestrado. O Matt também estava bem cheio de coisas no trabalho e fazendo também um mestrado. E somando a isso tudo, tínhamos agora que acertar a logística de namorar e preparar um casamento a distância!! Mas como Deus não dá ponto sem nó, algumas coisas já começaram a clarear bem cedo. O Matt tinha quatro semanas pra tirar no trabalho e ele inicialmente iria pros EUA fazer uma parte do mestrado. Mas como a Elisinha entrou na parada..rs, ele me falou que iria pro Brasil. 

Então foi esse o combinado quando ele foi embora: ele viria em maio e eu iria pra Australia em agosto. E ele sempre falava pra eu não me preocupar porque : “where there is a will, there is a way”.
Eu então voltei pra Ribeirão com aquele sorriso de orelha a orelha e contei pra todo mundo do meu gringo lindo. Nós nos falávamos toda hora e cada vez mais... dois dias depois que ele chegou de volta na Australia ele já comprou a passagem  pro Brasil em maio. E eu fiquei super feliz !!

Mas não foi só isso: a paixonite estava demais. Na semana seguinte à nossa volta do Rio, eu acordei e tinha uma mensagem dele pedindo pra eu entrar no Skype assim que eu pudesse porque ele tinha novidades! Eu saí correndo assim que eu acordei. A hora que nós começamos a conversar o Matt falou pra mim: “Eu tenho boas notícias. Consegui uma passagem pro Brasil com um preço bom e vou na páscoa”!! Inicialmente eu não entendi muito bem, eu falei: “mas só pra páscoa?” e ele falou: “sim, quatro dias, só pra páscoa mesmo”.

Nessa hora eu pensei: “obras é que são amores...”. Gente, na boa, Australia- Brasil não é Ribeirão- São Paulo. Quem já fez essa viagem sabe que ela arrebenta até o organismo da pessoa mais atleta! Eu pulava de alegria e já fui contando pra minha família inteira que o Matt viria também na páscoa pra conhecer todo mundo! Se eu tinha qualquer resquício de dúvida sobre a intenção do Matt e do empenho dele em fazer nosso namoro (e casamento) dar certo, com certeza essas dúvidas se dissiparam ali naquele momento.

Eu entendi também que o amor se prova no sacrifício e na doação. Quanta gente diz pro outro: “eu te amo. Daria a vida por você” mas se você quiser um pedaço do meu sanduiche eu não dou...

A vida de Jesus é um constante convite a nos doarmos, a amarmos com obras, a nos “gastarmos pelas almas”. E o que eu acho mais curioso e triste é que o mundo está andando na contramão disso tudo. As teorias modernas falam cada vez mais do “eu”, do “meu”, da “minha felicidade”. O autor Dietrich Von Hidelbrand fala sobre isso em seu livro “Liturgia e personalidade”. Ele diz: “ironicamente, a sociedade de hoje geralmente mede o valor de um objetivo em termos da auto-realização que ele gera. Esses valores invertidos são os mesmos que levam maridos a deixarem suas esposas, mães deixarem seus filhos, padres e freiras a largarem suas vocações religiosas...” e finaliza: “Platão afirma que a alma ganha asas à medida que cresce nos valores...e esses valores só são alcançados quando um auto-esquecimento é alcançado”.

Quanto mais nós nos doamos, mais seremos felizes. Não há dúvida.

Agora vou contar duas histórias. A primeira é a do padre vietnamita Nguyen Van Tuhan.  Esse padre foi preso pelo regime comunista do Vietnã e passou treze anos preso, a maioria deles na solitária, por não negar sua fé.  A história dele é fascinante. Contam que os soldados que faziam sua guarda tinham que ser trocados de tempos em tempos porque ele convertia a todos. O padre Van Tuhan consciente da sua vocação de sacerdote, sabia que celebrar a missa era sua principal tarefa e sua maior honra. Então ele celebrava a missa dentro da prisão e usava o bolso da sua camisa como tabernáculo e a palma da sua mão como altar para receber Jesus sacramentado.

A segunda história aconteceu esses dias. Eu fui ao hospital onde eu estou fazendo o pré-natal aqui em Brisbane e quando eu passei pelo saguão vi uma maquete. É uma réplica de uma incubadora e dentro tem um bebê de mentira, mas se você olha de longe parece de verdade. Do lado dessa maquete tem uma foto de um bebê de verdade e uns dizeres. Esse bebê nasceu prematuro há alguns anos e morreu depois de alguns dias na UTI neonatal. Os pais decidiram fundar uma instituição pró- vida e de apoio às famílias que passam por esses mesmos problemas. O mais bonito é a carta dos pais fixada ao lado da foto do bebezinho. Eu não lembro exatamente de tudo mas em resumo o pai e a mãe falam do enorme privilégio e da  alegria que foi pra eles terem tido aquele bebezinho na vida deles, mesmo que por pouco tempo. E é claro que eu chorei litros ali no saguão do hospital.

Mas por que eu contei essa duas histórias? Porque elas me mostraram de forma bem clara que ninguém tem desculpa pra não “amar com obras”. Esse bebezinho sem poder andar ou se comunicar e o padre Van Tuhan, enclausurado fizeram tanto bem! Por causa desse bebê, hoje existe uma fundação que apoia crianças e famílias com problemas na gestação e depois do parto e por causa do padre vietnamita muitas pessoas conheceram a fé.

Então voltando: a expectativa quanto à vinda do Matt era muito grande! A gente fazia reunião todo dia a noite lá em casa pra programar a vinda do Matt pra conhecer todo mundo e meus pais me perguntavam todo santo dia qual era a comida preferida dele...kkkk. Minha família tem mania de comida e se vão, por exemplo, quinze pessoas pra almoçar pode ter certeza que eles vão fazer comida pra quarenta...rs.

O Matt chegou na quinta-feira santa de noitão e na sexta-feira da paixão ele foi almoçar lá em casa pra conhecer todo mundo. Eu acho que foi um dos dias mais felizes da minha vida. Sabe quando você tem vontade de congelar aquele momento porque as pessoas que você mais ama estão reunidas num mesmo lugar e festejando? Então, foi esse dia. Foi muito engraçado porque meu pai não fala inglês porém ele olhava pro Matt e falava uma frase com umas dez palavras: nove em português!! Kkkk. O Nino meu irmão falava: “pai, não sei se você percebeu mas o Matt não fala português”...kkkkk

Eu já estou acabando esse post, mas queria completar com mais alguns pensamentos. “Amar com obras” não é só fazer coisas grandes.  Nós também podemos e devemos amar o próximo com as pequenas ações, que aliás as vezes são as que mais podem custar.

E agora então outra história (a última desse post, prometo..rs): quando eu morava em São Paulo, eu conheci uma amiga do Opus Dei com quem eu me encontrava semanalmente. Ela me ajudou muito e foi um grande exemplo pra mim. Eu achava curioso observá-la porque ela foi uma das pessoas mais doces, pacientes e preocupadas com os outros que eu já conheci. E eu convivi com ela durante dois anos e meio e nunca a vi de mau humor ou reclamando de nada. Nada! Convenhamos: é difícil isso, né? Ela estava sempre sorrindo e alegre! Um dia eu não aguentei e perguntei pra ela: “Não tem nada que te tire a paciência, o bom humor? Você está sempre tão de bem com a vida!”. E surpreendentemente ela me respondeu: “Tem. Tem uma coisa que me custa: mudar meus “esquemas””. Aí ela me explicou que ela gostava de planejar muito bem seu dia, desde a manhã até a noite. Mas quando alguém demandava algo muito fora desse esquema, isso lhe custava, porque ela tinha que rearranjar todos os seus compromissos. Mas ela falou pra mim: “mas aí eu sei que é Deus por trás disso tudo querendo que eu seja generosa e coloque o próximo antes dos meus interesses próprios, como nos ensinou Nosso Senhor”.

Então, o ano passado, muitos anos mais tarde, eu estava trabalhando e como disse, 2015 foi um ano muito corrido. Eu tinha que ter meu dia inteiramente planejado pra dar conta de tudo. Um desses dias, eu cronometrei o tempo certinho de sair do trabalho, ir pra natação e chegar no meu compromisso a noite. Quando eu estava quase saindo do trabalho minha mãe me liga pedindo pra eu passar na padaria pra comprar um pãozinho fresco. Na hora eu pensei: “Nããããão!! Não vai dar tempo”. Mas como você vai negar comprar um pãozinho fresco pra sua própria mãe? Aí na hora eu me lembrei da minha amiga de São Paulo....e veio o Espírito Santo me soprando: “Saia do seus “esquemas” Elisa, saia do seu egoísmo, vai te fazer muito feliz”.

Pra terminar, uma frase do nosso maravilhoso papa Francisco na sua homilia nas Filipinas: “Pensemos em São Francisco: deixou tudo, morreu com as mãos vazias, mas com o coração cheio”.

É isso por hoje.

Muitos beijos e fiquem com Deus!