Bom dia/ boa noite pessoal
O capítulo de hoje se chama: “O
Opus Dei e eu”.
Eu decidi falar sobre ele por
vários motivos: primeiro porque o “nosso milagre” aconteceu por intercessão de
Dom Alvaro- o primeiro sucessor de São Josemaria Escrivá no Opus Dei. Depois
porque estamos na semana em que se comemora o dia do fundador (26 de junho) e
finalmente porque muita gente me manda perguntas sobre o que é essa tal de
direção espiritual que eu venho falando no blog, onde eu aprendi essas coisas
sobre fé, etc. E não tem como falar da minha vida de fé sem falar da Obra (que
é como chamamos o Opus Dei no Brasil)...
Então pra ficar mais fácil,
resolvi falar por tópicos das coisas que aprendi na Obra, como no capítulo da
“Abertura à vida”:
1) Deus
em primeiro lugar- Em uma das primeiras meditações que eu assisti com o padre
Xavier, o sacerdote da Obra de quem já falei lá em outros posts, ele estava
contando sobre a primeira coisa que ele aprendeu quando entrou num centro do
Opus Dei pela primeira vez- ir no sacrário e cumprimentar Jesus, de preferência
fazendo uma genuflexão. Esse item- Deus em primeiro lugar- engloba inúmeras
coisas então vou ter que resumir. Mas o que é importante saber: que a primeira
regra da nossa vida deve ser fazer a vontade de Deus sempre. Dante Alighieri na
“A divina comédia” diz: “está na Sua vontade a nossa paz”.
Também implica
ter o “amor ordenado”, algo que eu aprendi na Obra e que me é TÃO útil! O amor
ordenado significa saber priorizar meus afetos, preocupações e ocupações de
maneira correta. Em primeiro lugar, e essa regra vale para todos, em qualquer
situação: devemos amar a Deus antes de tudo. Esse é o primeiro mandamento.
Depois, essa regra muda conforme a situação das pessoas. Por exemplo, para
pessoas casadas, depois de Deus vem o cônjuge, depois os filhos e assim por
diante. Parece óbvio, mas isso é um grande motivo de confusão. Por exemplo,
quando um pai de família sabe que depois do trabalho ele tem o jogo de futebol
do filho e que isso é importante para o filho e ao invés disso ele vai a um
happy hour com os amigos, ele está amando de forma desordenada (claro que é um
exemplo “por cima” e eu não quero entrar em casuísticas, mas serve pra
ilustrar). Ou também quando colocamos todo nosso coração em coisas como a
carreira, o prestígio profissional, a saúde, o bem-estar físico. Essas coisas,
todas boas, devem se ordenar para amar mais a Deus e ao próximo, não para que
coloquemos nelas um valor maior do que elas têm. Em resumo: não colocar no que
é passageiro um valor absoluto.
Há um autor espiritual que comenta sobre isso
falando da vida de Bertrand Russel, o matemático e filósofo ateu que viveu no
século XIX/XX. Um dia ele estava caminhando e pensou: “Não amo mais minha
esposa. Vou me separar”. E esse autor espiritual diz: “o problema não é que ele
parou de amar a esposa, é que ele nunca deixou de se amar tanto”. Amor
desordenado...
2) O
meu maior ideal é a santidade.
O maior ideal de
um cristão deve ser a busca da santidade pessoal. E isso implica
automaticamente no fato de que estamos buscando também a felicidade porque todo
santo é extremamente feliz. Dizer que
uma pessoa santa é alegre é um pleonasmo, é “chover no molhado”. Basta ler sobre a vida dos santos e um belo
exemplo disso, já que estamos falando dele, é ver um vídeo de São Josemaria
Escrivá e observar sua alegria, seu carisma, seu entusiasmo quando falava,
quando conversava. E, além disso, alguém consegue convencer outra pessoa tendo
uma cara amarrada, triste, mal humorada? Acho impossível.
3) Plano
de vida/ Disciplina
Sabe aquela história
de que quem trabalha no Google pode chegar a hora que quer, trabalhar do jeito
que quer, não ter hierarquia? Então, acho lindo, mas acho difícil funcionar.....
o ser humano precisa de disciplina e eu por exemplo sou nerd de carteirinha e
preciso não só de disciplina mas também de horário, de programas e de um
diretor espiritual que me cobre das minhas metas. Foi isso uma das primeiras
coisas que eu aprendi na Obra: nós precisamos de um “plano de vida”. O que é
isso? São atividades que fazemos durante o dia que nos ajudam a ter mais
presença de Deus. E o que são essas atividades? São várias e o diretor
espiritual de cada um vai dando conforme ele achar melhor. São elas, por
exemplo: a missa diária, o terço, a oração mental, o Angelus ao meio-dia, etc.
Muita gente pensa: “ah, mas eu sou muito ocupada, tenho uma vida muito corrida,
não tenho tempo pra ter um plano de vida!”. E o raciocínio é exatamente o
contrário. São Francisco de Salles dizia que se você está ocupado, reze meia hora
por dia. Se você está MUITO ocupado, reze uma hora.
São Josemaria dizia que
“Deus multiplica o nosso tempo”. Eu sei bem disso. Se nos esforçamos por
cumprir nosso plano de vida, são muitas as graças que Deus nos rende, inclusive
materiais. É por exemplo o trânsito que Ele vai fazer diminuir no caminho do
trabalho/ faculdade, é aquela reunião que vai demorar menos do que havíamos
previsto, aquele documento do órgão público que nós precisamos que chegará a
tempo, o tratamento do filho que vai reagir mais rápido a um antibiótico, etc.
Deus é senhor de tudo e Ele paga com muita generosidade quem dedica um tempo a
Ele. Fora as infinitas graças espirituais. E por que nós fazemos um plano de
vida? Por amor. Porque nós amamos a Deus e precisamos da graça e da presença dEle
durante todo o dia.
Finalizando o
raciocínio: o Ayrton Senna, que na minha opinião foi o maior atleta brasileiro
de todos os tempos tinha uma enorme disciplina. Depois que ele morreu, um dia
eu li uma reportagem do Nuno Cobra que foi preparador físico dele. O Nuno Cobra
era conhecido por ser bem duro com os seus pupilos. Aí ele conta que dava o
treino pro Senna de segunda a sábado e domingo era seu dia de folga. Aí um
domingo de manhã, super frio e chuva em SP, o Senna liga pra ele e fala: “e aí,
vamos dar uma corridinha?”. E ele falou: “Você ta louco Ayrton? Vai dormir! Ta
uma friaca aqui em SP e são 6 da manhã!!”..kkkk. Ninguém chega a ser Ayrton
Senna à toa. “No pain, no gain”. Na vida espiritual não é diferente.
4) Trabalho
voluntário. “Sair de si” foi também uma das coisas mais bonitas que aprendi na
Obra: olhar meu próximo, sentir a dor do outro e não só das pessoas com necessidades
físicas: doentes, miseráveis, mas também todos os que carregam feridas na alma.
Eu já havia feito trabalho voluntário antes de fazer com as meninas da Obra.
Mas eu costumava ir ao CARIB, uma instituição pra crianças vítimas de maus
tratos em Ribeirão. Não que não tenha sido bom, todo trabalho voluntário é
super valido. Mas eu saía da minha casa, passava umas duas horinhas lá e
voltava pra minha realidade. O primeiro trabalho voluntário que eu fiz com o
pessoal da Obra foi bem diferente: nós fomos pra uma cidade bem pobre na região
de Campinas e fomos pra ficar três dias (as meninas ficaram sete mas eu
trabalhava no Itau e consegui ficar só
3).
Nós ficamos alojadas em uma escola de improviso e eu morro de rir quando me
lembro dessa minha primeira experiência. Eu confesso que eu era bem mimadinha,
bem “criadona com a vó”. Então eu cheguei lá na escola, já peguei minha mala,
fui pro meu “quarto” (uma sala da escola improvisada bem simples), peguei um
banquinho pra colocar as minhas coisas e saquei a minha nécessaire vermelha da
Victoria Sectret´s da mala. Pensa na cena: a pessoa vai fazer um trabalho
voluntário em uma das regiões mais pobres do estado de SP, ficar alojada em uma
escola super humilde e saca uma nécessaire vermelha da bolsa. Kkkkkkkk. Um
pouco fora do contexto....mas foi uma experiência e tanto!
Num desses
trabalhos voluntários com o pessoal da Obra, nós fomos pro Recife e ficamos em
uma escola em Jaboatão dos Guararapes, bem pobre. Nós nos dividíamos em grupos
de 3 pra ir visitando as casas e eu me lembro muito bem de uma delas. Estávamos
eu, minha prima e uma amiga e nós começamos a conversar com a dona e ela
começou a falar que queria ter um “resisto”. E nós não entendemos muito bem.
Depois de muita conversa, nós entendemos: essa moça não tinha CPF ou RG.
Imaginem? Ela não tinha acesso a nada e teve que ter seus três filhos em casa porque
o hospital se negou a atendê-la porque não tinham como registrá-la. Nós ficamos
muito tocadas e conseguimos encaminhá-la para tirar seus documentos. Todas
essas histórias de pessoas que eu conheci nos trabalhos voluntários me fizeram
ver que eu tenho muito mais do que preciso e que como diz minha mãe: “eu só
tenho que agradecer todos os dias de joelhos!!”. E eu sei que muita gente pensa
que esses trabalhos voluntários isolados não vão mudar o país ou o mundo e que foi
só uma gota no oceano, mas como disse Madre Teresa um dia: “sem a minha gota o
oceano seria menor”.
5) A
ajuda incrível dos meios de formação.
A Obra oferece
diversos meios de formação espiritual: retiros, recolhimentos, cursos para
casais, para pais, palestras, direção espiritual, entre tantos outros. Eles nos
ajudam incrivelmente. Por exemplo em relação à direção espiritual eu aprendi
que como diz o ditado: “Ninguém é bom juiz de si mesmo”. Nós temos uma
tendência inegável a nos desculparmos dos nossos próprios erros e o pior: a aumentar
os defeitos e erros dos outros e isso pode ser muito prejudicial em todos os
nossos relacionamentos.
Há também como
eu disse, muitos outros meios de formação e eu posso dizer que meus pais
receberam muita ajuda deles, principalmente quando nós estávamos crescendo.
Criar uma família é um desafio grande e criar uma família grande com filhos em
idades espaçadas é um desafio maior ainda. Eu lembro que quando eu e minha irmã
mais velha ficamos adolescentes, meus pais fizeram cursos com o pessoal da Obra
e foram excelentes. São várias as coisas que os pais precisam pensar, como por
exemplo: como programar as férias se você tem uma filha adolescente e uma
criança pequena? Como lidar com perguntas sobre sexo dos adolescentes no meio
do almoço quando seu irmão de 3 anos está junto? E nós sabemos que sexualizar
as crianças precocemente não é nada bom e muito perigoso e por aí vai.
Fora a
logística: dar conta de todas as atividades, saber escolhê-las pros filhos, ter
cada um estudando em uma escola em um canto diferente da cidade.... com relação
a esse último item, eu lembro que meu pai uma época teve um monza azul a álcool
que nunca pegava no frio. Então as 7 da manhã lá em casa tinha aquele monte de
criança com as mochilinhas nas costas e meu pai xingando até a última geração
dos fabricantes de Monza...kkkk
E finalmente a
ajuda enorme que um casal tem quando os dois fazem direção espiritual. Eu amo e
agradeço a Deus pelo fato de eu e o Matt termos direção com o padre Peter, que
é um sacerdote do Opus Dei aqui em Brisbane. Pra finalizar, vou contar a última
história que mostra como a Obra me ajuda, inclusive e muito especialmente no
meu casamento. Esse último fim de semana eu fui pro retiro (um fim de semana
por ano que tiramos pra ficar mais recolhidos e em silêncio para ouvir a Deus). Na sexta-feira, antes de ir, eu arrumei a
casa inteira: lavei os banheiros, limpei a sala e cozinha, os quartos, guardei
as roupas, etc, Enfim, a casa estava um brinco! Aí na sexta-feira o Matt me
deixou no retiro e foi pra cidade da minha sogra. Só que ele voltou no sábado a
noite e ficou sozinho em casa de sábado até domingo a tarde quando ele foi me
buscar.... Kkkkkk e marido sozinho em casa é problema...kkkkk.
Quando nós chegamos
no domingo a noite e eu fui entrando em casa eu me senti em um filme. Sabe
aqueles filmes de guerra em que a câmera vai gravando lentamente a cena depois
de uma batalha: os destroços, as coisas no chão? Kkkk, então, esse era o
cenário na minha casa. Eu estava quase pra falar algo crítico quando ele parado
no balcão da cozinha me fala: “Você viu quanto abacate eu trouxe?”. Ele trouxe
vários abacates que a minha cunhada querida deu pra gente porque ele sabe que
eu amo... claro que aí meu coração derreteu e eu ouvi do Espírito Santo o que
eu tinha acabado de ouvir no retiro: “Você tem certeza que você quer reclamar
por causa dessa besteira? Vai azedar o ambiente por causa disso?”. Aí já fui lá
agradecer e falar de outras coisas e fiquei pensando como é importante pra não
dizer essencial nos mantermos sempre na presença de Deus pra viver melhor tanto
as grandes quanto as pequenas coisas, que afinal formam o nosso caminho de
santidade.
É isso.
Mil beijos e
fiquem com Deus!
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