Bom dia/ boa noite pessoal!
O capítulo de hoje se chama:
“Obras é que são amores, não as boas razões”.
Já vou explicando o título e
depois o resto.
São Josemaria Escrivá, um dos
meus santos favoritos, estava em 16 de fevereiro de 1932 dando a sagrada Eucaristia
a umas irmãs de Santa Isabel e disse pra Jesus no seu coração: “Jesus, amo-te
mais que estas”. E logo ouviu a resposta de Nosso Senhor: “Josemaria, obras é
que são amores, não as boas razões”.
São Josemaria, que foi um “santaço”
e dedicou toda sua vida a serviço de Deus e das almas, levou esse “puxão de
orelha” ... toda vez que releio essa passagem fico pensando na minha vida.
E a pedidos e como prometi, vou
continuar contando o decorrer do nosso milagre, que tem tudo a ver com o título
de hoje.
Quando eu e o Matt nos despedimos
no Rio, no domingo depois do carnaval de 2015, nós só tínhamos uma certeza: de
que nós havíamos encontrado o que nós sempre procuramos (e como procuramos!! ) e
que nós queríamos passar a vida inteira um do lado do outro, mas ainda era meio
nebuloso o jeito que nós faríamos isso acontecer, afinal de contas ele morava
do outro lado do mundo. Além disso, 2015 foi pra nós dois o ano mais corrido
das nossas vidas. Eu estava trabalhando com meu pai, dando aulas duas noites
por semana em Jaboticabal e escrevendo a minha dissertação do mestrado. O Matt
também estava bem cheio de coisas no trabalho e fazendo também um mestrado. E
somando a isso tudo, tínhamos agora que acertar a logística de namorar e preparar
um casamento a distância!! Mas como Deus não dá ponto sem nó, algumas coisas já
começaram a clarear bem cedo. O Matt tinha quatro semanas pra tirar no trabalho
e ele inicialmente iria pros EUA fazer uma parte do mestrado. Mas como a
Elisinha entrou na parada..rs, ele me falou que iria pro Brasil.
Então foi esse
o combinado quando ele foi embora: ele viria em maio e eu iria pra Australia em
agosto. E ele sempre falava pra eu não me preocupar porque : “where there is a
will, there is a way”.
Eu então voltei pra Ribeirão com
aquele sorriso de orelha a orelha e contei pra todo mundo do meu gringo lindo.
Nós nos falávamos toda hora e cada vez mais... dois dias depois que ele chegou
de volta na Australia ele já comprou a passagem pro Brasil em maio. E eu fiquei super feliz !!
Mas não foi só isso: a paixonite
estava demais. Na semana seguinte à nossa volta do Rio, eu acordei e tinha uma
mensagem dele pedindo pra eu entrar no Skype assim que eu pudesse porque ele
tinha novidades! Eu saí correndo assim que eu acordei. A hora que nós começamos
a conversar o Matt falou pra mim: “Eu tenho boas notícias. Consegui uma
passagem pro Brasil com um preço bom e vou na páscoa”!! Inicialmente eu não
entendi muito bem, eu falei: “mas só pra páscoa?” e ele falou: “sim, quatro
dias, só pra páscoa mesmo”.
Nessa hora eu pensei: “obras é que
são amores...”. Gente, na boa, Australia- Brasil não é Ribeirão- São Paulo.
Quem já fez essa viagem sabe que ela arrebenta até o organismo da pessoa mais
atleta! Eu pulava de alegria e já fui contando pra minha família inteira que o
Matt viria também na páscoa pra conhecer todo mundo! Se eu tinha qualquer
resquício de dúvida sobre a intenção do Matt e do empenho dele em fazer nosso
namoro (e casamento) dar certo, com certeza essas dúvidas se dissiparam ali
naquele momento.
Eu entendi também que o amor se
prova no sacrifício e na doação. Quanta gente diz pro outro: “eu te amo. Daria
a vida por você” mas se você quiser um pedaço do meu sanduiche eu não dou...
A vida de Jesus é um constante
convite a nos doarmos, a amarmos com obras, a nos “gastarmos pelas almas”. E o
que eu acho mais curioso e triste é que o mundo está andando na contramão disso
tudo. As teorias modernas falam cada vez mais do “eu”, do “meu”, da “minha
felicidade”. O autor Dietrich Von Hidelbrand fala sobre isso em seu livro “Liturgia
e personalidade”. Ele diz: “ironicamente, a sociedade de hoje geralmente mede o
valor de um objetivo em termos da auto-realização que ele gera. Esses valores
invertidos são os mesmos que levam maridos a deixarem suas esposas, mães
deixarem seus filhos, padres e freiras a largarem suas vocações religiosas...”
e finaliza: “Platão afirma que a alma ganha asas à medida que cresce nos
valores...e esses valores só são alcançados quando um auto-esquecimento é
alcançado”.
Quanto mais nós nos doamos, mais
seremos felizes. Não há dúvida.
Agora vou contar duas histórias.
A primeira é a do padre vietnamita Nguyen Van Tuhan. Esse padre foi preso pelo regime comunista do
Vietnã e passou treze anos preso, a maioria deles na solitária, por não negar
sua fé. A história dele é fascinante.
Contam que os soldados que faziam sua guarda tinham que ser trocados de tempos
em tempos porque ele convertia a todos. O padre Van Tuhan consciente da sua
vocação de sacerdote, sabia que celebrar a missa era sua principal tarefa e sua
maior honra. Então ele celebrava a missa dentro da prisão e usava o bolso da
sua camisa como tabernáculo e a palma da sua mão como altar para receber Jesus
sacramentado.
A segunda história aconteceu
esses dias. Eu fui ao hospital onde eu estou fazendo o pré-natal aqui em
Brisbane e quando eu passei pelo saguão vi uma maquete. É uma réplica de uma
incubadora e dentro tem um bebê de mentira, mas se você olha de longe parece de
verdade. Do lado dessa maquete tem uma foto de um bebê de verdade e uns
dizeres. Esse bebê nasceu prematuro há alguns anos e morreu depois de alguns
dias na UTI neonatal. Os pais decidiram fundar uma instituição pró- vida e de
apoio às famílias que passam por esses mesmos problemas. O mais bonito é a
carta dos pais fixada ao lado da foto do bebezinho. Eu não lembro exatamente de
tudo mas em resumo o pai e a mãe falam do enorme privilégio e da alegria que foi pra eles terem tido aquele
bebezinho na vida deles, mesmo que por pouco tempo. E é claro que eu chorei
litros ali no saguão do hospital.
Mas por que eu contei essa duas
histórias? Porque elas me mostraram de forma bem clara que ninguém tem desculpa
pra não “amar com obras”. Esse bebezinho sem poder andar ou se comunicar e o
padre Van Tuhan, enclausurado fizeram tanto bem! Por causa desse bebê, hoje
existe uma fundação que apoia crianças e famílias com problemas na gestação e
depois do parto e por causa do padre vietnamita muitas pessoas conheceram a fé.
Então voltando: a expectativa quanto
à vinda do Matt era muito grande! A gente fazia reunião todo dia a noite lá em
casa pra programar a vinda do Matt pra conhecer todo mundo e meus pais me
perguntavam todo santo dia qual era a comida preferida dele...kkkk. Minha família
tem mania de comida e se vão, por exemplo, quinze pessoas pra almoçar pode ter
certeza que eles vão fazer comida pra quarenta...rs.
O Matt chegou na quinta-feira
santa de noitão e na sexta-feira da paixão ele foi almoçar lá em casa pra
conhecer todo mundo. Eu acho que foi um dos dias mais felizes da minha vida.
Sabe quando você tem vontade de congelar aquele momento porque as pessoas que
você mais ama estão reunidas num mesmo lugar e festejando? Então, foi esse dia.
Foi muito engraçado porque meu pai não fala inglês porém ele olhava pro Matt e
falava uma frase com umas dez palavras: nove em português!! Kkkk. O Nino meu
irmão falava: “pai, não sei se você percebeu mas o Matt não fala
português”...kkkkk
Eu já estou acabando esse post,
mas queria completar com mais alguns pensamentos. “Amar com obras” não é só
fazer coisas grandes. Nós também podemos
e devemos amar o próximo com as pequenas ações, que aliás as vezes são as que
mais podem custar.
E agora então outra história (a
última desse post, prometo..rs): quando eu morava em São Paulo, eu conheci uma
amiga do Opus Dei com quem eu me encontrava semanalmente. Ela me ajudou muito e
foi um grande exemplo pra mim. Eu achava curioso observá-la porque ela foi uma
das pessoas mais doces, pacientes e preocupadas com os outros que eu já
conheci. E eu convivi com ela durante dois anos e meio e nunca a vi de mau
humor ou reclamando de nada. Nada! Convenhamos: é difícil isso, né? Ela estava
sempre sorrindo e alegre! Um dia eu não aguentei e perguntei pra ela: “Não tem
nada que te tire a paciência, o bom humor? Você está sempre tão de bem com a
vida!”. E surpreendentemente ela me respondeu: “Tem. Tem uma coisa que me
custa: mudar meus “esquemas””. Aí ela me explicou que ela gostava de planejar
muito bem seu dia, desde a manhã até a noite. Mas quando alguém demandava algo
muito fora desse esquema, isso lhe custava, porque ela tinha que rearranjar
todos os seus compromissos. Mas ela falou pra mim: “mas aí eu sei que é Deus
por trás disso tudo querendo que eu seja generosa e coloque o próximo antes dos
meus interesses próprios, como nos ensinou Nosso Senhor”.
Então, o ano passado, muitos anos
mais tarde, eu estava trabalhando e como disse, 2015 foi um ano muito corrido.
Eu tinha que ter meu dia inteiramente planejado pra dar conta de tudo. Um desses
dias, eu cronometrei o tempo certinho de sair do trabalho, ir pra natação e
chegar no meu compromisso a noite. Quando eu estava quase saindo do trabalho
minha mãe me liga pedindo pra eu passar na padaria pra comprar um pãozinho fresco.
Na hora eu pensei: “Nããããão!! Não vai dar tempo”. Mas como você vai negar
comprar um pãozinho fresco pra sua própria mãe? Aí na hora eu me lembrei da
minha amiga de São Paulo....e veio o Espírito Santo me soprando: “Saia do seus “esquemas”
Elisa, saia do seu egoísmo, vai te fazer muito feliz”.
Pra terminar, uma frase do nosso
maravilhoso papa Francisco na sua homilia nas Filipinas: “Pensemos em São
Francisco: deixou tudo, morreu com as mãos vazias, mas com o coração cheio”.
É isso por hoje.
Muitos beijos e fiquem com Deus!
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